fevereiro 07, 2013

Saúde e Alegria: comunidades ribeirinhas embarcam no caminho da sustentabilidade


Em Santarém (PA), a população basicamente cabocla viveu à margem da sociedade durante décadas, privada de políticas públicas das mais essenciais, como emergências médicas. O acesso a essas comunidades é feito principalmente através de barcos, uma vez que a malha rodoviária é inexistente ou muito precária. Diante da adversidade, mais simples talvez fosse deixar essas populações entregues a seu próprio destino. Mas, no começo dos anos 80, empreendedores sociais armaram ali o seu circo para que essa região deixasse de ser palco de tanto descaso. O Circo Mocorongo* é uma espécie de alter ego do Projeto Saúde & Alegria, em que as experiências são compartilhadas no picadeiro por técnicos e pela população local. O desenvolvimento comunitário de forma sustentável  é o seu maior objetivo, mas sem dispensar a alegria. Hoje, passados quase 30 anos desde a sua fundação, o projeto atua ainda em mais três municípios da região, atendendo cerca de 30 mil pessoas.
A jornada começou quando um médico sanitarista e uma arte-educadora desembarcaram na região, em 1983. O ovo de Colombo desses exploradores talvez tenha sido o fato de compreenderem que havia uma forte sabedoria enraizada e essa identidade cultural deveria também nortear todo o processo. Com ações básicas e determinação, muito foi transformado em pouco tempo: as comunidades passaram a tratar sua água, os índices de desnutrição e mortalidade infantil baixaram vertiginosamente e agentes de saúde foram se formando.
Com as questões mais emergenciais da área de saúde encaminhadas, as comunidades podiam então partir para um planejamento a longo prazo. Para geração de renda, cada comunidade foi discutindo sua vocação, seja na produção e comercialização de cestarias, seja no ecoturismo etc. Na área de comunicação, foram desenvolvidos blogs comunitários e algumas comunidades dispõem de smartphones para geração de conteúdos. O modelo de barco-hospital, implementado pelo projeto, virou política pública do Ministério da Saúde. Tendo-o como referência, o ministério baixou em 2010 a portaria “Estratégia de Saúde da Família Fluvial”. O modelo do projeto mostrou-se bastante viável e adaptável a realidades muito diversas. O projeto tornou-se a referência do governo federal para projetos de desenvolvimento sustentável. Que assim seja, saúde e alegria!

* Mocorongo é como se chama aquele que nasceu no município de Santarém. -- Veja também o post do blog sobre o Projeto Expedicionários da Saúde:     http://www.respostassustentaveis.com.br/tag/expedicionario/  ---Artigo escrito por Mauro Vianna / Repostas Sustentaveis

Nenhum comentário:

Postar um comentário