setembro 16, 2011

Projeto une recuperação ambiental e inclusão social

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Projeto oferece oportunidade de ressocialização/Foto: Divulgação
Apoiada em um tripé que reúne sustentabilidade, reparação do meio ambiente e inclusão social, a empresa Florestas Inteligentes surgiu em 2010 com o objetivo de mudar o conceito de reflorestamento e dar oportunidade aos excluídos.
Após uma parceria com a Penitenciária Edgar Magalhães Noronha (Pemano), localizada em Tremembé, no interior de São Paulo, o projeto foi implantado em uma área de 7,8 hectares, o equivalente a oito campos de futebol, onde 53 detentos cultivam mudas de árvores da mata atlântica e plantam um novo futuro.
A cada três jornadas de oito horas de trabalho, um dia é descontado na pena a ser cumprida. Os selecionados recebem um salário mínimo e mais 10% do valor dos vencimentos. Este capital extra é creditado em uma poupança e entregue ao fim do período de reclusão.
“Nós fomos buscar um público carente no último degrau dos excluídos. A sociedade carcerária é muito complexa e sempre é a última a receber algum recurso”, ressalta Paulo Franzine, sócio e principal idealizador da empresa Florestas Inteligentes.
A seleção, baseada em bom comportamento, prioriza internos em regime semi-aberto que estão cumprindo a fase final de detenção. A partir do momento em que são aprovados, passam a ser conhecidos como reeducandos e recebem a qualificação necessária para trabalhar nas áreas de irrigação, manutenção, plantio, dentre outras.
Mudas
As mudas convencionais, vendidas com altura entre 50 e 70 centímetros, são mais vulneráveis ao ataque de pragas e alterações climáticas. A Florestas Inteligentes oferece versões com mais de um metro, consideradas mudas adultas e mais resistentes às intempéries.
Franzine afirma que cultivá-las em sacos plásticos iria de encontro aos valores do projeto, por isso, as mudas são acondicionadas em embalagens biodegradáveis, compostas de casca de arroz e celulose. O vaso é permeável e, conforme o crescimento da planta, é inserido em outro com maior capacidade. Aos poucos, a embalagem menor se decompõe e enriquece o substrato. Desta forma, o sistema evita o choque durante o transplante das mudas e utiliza matéria-prima local.
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Vasos biodegradáveis favorecem o crescimento saudável das mudas/Foto: Divulgação
Ao todo, são 130 espécies de árvores exóticas e nativas da mata atlântica, como o Ipê Amarelo, o Jequitibá e a Embaúba. Vendidas por cerca de R$ 10,00, as mudas possuem mais chances de sobrevida. “O plantio feito com pequenos tubetes em sacos plásticos, com mudas pequenas, resulta no inverso, pois apenas 20% das plantas sobrevivem e, sendo assim, não existe o cumprimento da lei e nem do reflorestamento”, explica Franzine.
A comunidade que vive ao redor da penitenciária também é beneficiada pelo projeto Florestas Inteligentes, pois as mudas são oriundas de sementes colhidas por famílias carentes da região. A empresa oferece cursos preparatórios de arvorismo e rapel e fornece os equipamentos adequados para a coleta. Ao final do mês, toda a colheita realizada por cerca de 50 famílias é adquirida. Com isso, a empresa tem capacidade de produzir 100 mil mudas por mês.
“Encontramos um nicho no mercado, mas entendemos que esse caminho não tinha que ser apenas comercial e, sim, um trabalho que tivesse uma preocupação ambiental e um cunho social”, define Franzine.
Sustentabilidade
Atualmente, o projeto conta com 1,5 milhões de exemplares prontos para serem utilizados em reflorestamento ou compensação ambiental, quando empresas são obrigadas, por lei, a recuperar áreas degradadas.
Na área destinada ao projeto, além dos dois viveiros, está instalada a fábrica de substrato. Diariamente, 10 reeducandos produzem a fórmula que garante a saúde e o crescimento vigoroso das plantas.
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Viveiros abrigam 130 espécias de plantas nativas/Foto: Divulgação
A instalação de um biodigestor está em processo e é o próximo passo a ser dado em direção à sustentabilidade total da empresa. A partir do funcionamento, a penitenciária terá 100% do esgoto reaproveitado. A massa orgânica, após tratamento, será agregada ao substrato, enquanto o chorume, parte líquida dos resíduos, vai ser convertido em água de irrigação, e o gás metano será transformado em energia para a fábrica de substrato. “Vai ser a consagração da nossa empresa. Um processo com sustentabilidade de A a Z”, afirma Paulo Franzine.
Em sala de aula
Batizada com a frase que dá nome ao projeto, a sala “O homem e a natureza em pé” foi construída pelos reeducandos e abriga quatro cursos de capacitação profissional nas áreas de horticultura, jardinagem, restauro florestal e viveirismo. Cada módulo tem duração de 32 horas e as lições são passadas por mestrandos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), uma das parceiras do projeto.
A empresa não se limita a passar conhecimento e qualificar os presidiários. Com o objetivo de aproximá-los das famílias, a quantidade de filhos de cada interno foi levantada. Com os dados em mãos, a equipe montou kits de material escolar que foram entregues às crianças pelos pais nos dias de visita. “Desta forma, eles conseguem levantar o assunto escolaridade e existe uma troca de informação sobre aprendizado entre pai e filhos. O assunto criminalidade sai um pouco da pauta do relacionamento e são criados novos vínculos”, explica Franzine.
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Sala de aula abriga até 25 alunos por turno/Foto: Divulgação
Para a próxima sexta-feira, 16 de setembro, está marcada uma cerimônia de formatura que irá conceder certificados para 47 reeducandos que concluíram os cursos de restauro florestal e viveirismo. O ganho principal, no entanto, está no aumento da auto-estima dos detentos e nas possibilidades que a capacitação oferece. Desde o início do projeto, dois internos cumpriram a pena e, ao saírem do Pemano, foram contratados para atuar na área. “Nossos resultados sociais são concretos e nossa produção, consolidada”, finaliza Franzine.
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Paulo Franzine, principal idealizador do projeto, tem planos de expansão/Foto: Divulgação
No dia 21 de setembro é comemorado o Dia da Árvore e, não por acaso, a data foi escolhida para o lançamento da empresa no comércio. Após quase dois anos, as mudas atingiram a maturidade necessária e estão prontas para a utilização em projetos de reflorestamento. O plano de expansão da empresa prevê novas unidades em carcerárias do oeste de São Paulo.

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